sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Brasil nacionaliza filtro para extração de petróleo


A grande dificuldade para produzir a Tela Premium reside no 
sofisticado processo desoldagem de precisão dos fios
de aço usados na fabricação do filtro
metálico. [Imagem: Halliburton]

A Tela Premium é um equipamento utilizado pela indústria petrolífera para extrair petróleo do fundo do mar. Ela contém um material filtrante que possibilita a obtenção de um óleo livre da areia e da terra.

Entretanto, estas telas somente são produzidas por três empresas em todo o mundo. E nenhuma delas brasileira.

Agora, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) nacionalizou a técnica de construção dessas telas de filtragem, possibilitando que empresas brasileiras, como a Petrobras, possam optar por fornecedores locais.

Soldagem por difusão

O Brasil gasta anualmente cerca de US$ 40 milhões em importação de Telas Premium. Além da economia que será gerada com a nacionalização, o país poderá passar a disputar o mercado internacional do produto, estimado em US$ 200 milhões anuais.

A grande dificuldade para produzir a Tela Premium reside no sofisticado processo de soldagem de precisão dos fios de aço usados na fabricação do filtro metálico.

"Desenvolvemos um material por um processo chamado de soldagem por difusão, em meio a vácuo, em que átomos de um material migram para outro e vice-versa, num trabalho feito em altas temperaturas", explica Osmar Bagnato, coordenador do Grupo de Materiais do LNLS.

É esta tecnologia de soldagem que une as telas metálicas que formam o filtro da Tela Premium.

Transferência de tecnologia

Os testes de corrosão, resistência mecânica e análise microestrutural foram feitos no LNLS para qualificar os primeiros protótipos. Todos apresentaram resultados positivos.

Para que o material possa ser comercializado serão realizados agora testes de campo, primeiro em poços terrestres e depois em alto mar.

A inovação já foi objeto de um contrato de transferência de tecnologia com o objetivo final de elaborar um produto pronto para comercialização. O contrato foi firmado com a Adest, uma empresa de Campinas (SP), criada em função desta parceria.

O projeto que deu origem ao acordo de transferência de tecnologia recebeu R$ 800 mil de recursos da Finep em 2007 (Fundo CT Petro). Outros 200 mil foram investidos pela Adest e houve ainda um financiamento da FAPESP. Ao Laboratório coube a alocação de profissionais especializados e infraestrutura.

Do laboratório para a indústria

Caso a Tela Premium brasileira seja aprovada nos testes finais e seja efetivada a comercialização, o LNLS, que é um laboratório ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, receberá nos próximos cinco anos um percentual financeiro sobre as vendas (royalties), valor que será aplicado em pesquisa e desenvolvimento.

"A dificuldade maior na relação academia-indústria, mais do que gerar patentes, é realizar ações que realmente tenham impacto direto no setor produtivo", analisa Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS. "Gerar patente é um passo importante, mas se não houver uma estratégia que a transforme em riquezas para o País, o esforço pode ser em vão. Acredito que o contrato assinado entre o LNLS e a Adest é interessante principalmente porque é um caso concreto no qual o desenvolvimento de uma tecnologia consegue motivar a abertura de empresas, gerar empregos e trazer boas perspectivas de negócios para o Brasil", acrescenta.

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